Quando tomamos por referência os parâmetros da vida contemporânea, muitas vezes os documentos dos séculos anteriores parecem revelar factos surpreendentes a respeito de nossos antepassados. Uma dessas surpresas diz respeito à longevidade. Por vivermos em um momento da História em que temos mais recursos – alimentação, medicamentos e vacinas – para garantir uma vida mais saudável e longa, é normal acreditarmos que nossos antepassados vivessem menos, mas nada poderia ser mais falso. Meu bisavô materno João Pereira Belém (1848-1921) e seu pai Pedro Gomes de Moraes (1829-1891) faleceram com pouco mais de 70 anos, e são apenas dois dos inúmeros casos – vários bem mais longevos – que encontro em ambos os ramos de minha árvore.
Tais surpresas a respeito da vida dos antepassados não passam, portanto, de uma soma de desinformação e soberba. E essa soma parece ter ultrapassado a sociedade e se estabelecido até no mundo sofisticado das tecnologias da informação. Uma plataforma digital de genealogia bem conhecida parece revelar uma soma dessas ao criticar datas de casamento que parecem sugerir que um dos nubentes era jovem demais para se casar.
Observei um caso assim em minha árvore a respeito de minha tia-avó Generosa Nery, casada com meu tio-avô Sérvulo Pereira Belém (1884-1960). Generosa era natural do Estado do Espírito Santo (ES) e teria nascido em 1897, segundo estimativa feita a partir do que se informa em sua certidão matrimonial, onde se lê que a nubente tinha “quinze anos de idade“. Foi justamente a data de nascimento de Generosa que a tal plataforma me sugeriu alterar ao informar que:
Generosa Nery Almeida […] era muito jovem para casar-se em 8 de janeiro de 1912 quando ela tinha 15 anos de idade
Mas contra factos não há argumentos e apresento abaixo a imagem em que se lê o trecho transcrito, extraída do documento original digitalizado.
Todo cuidado é pouco ao aceitar as orientações dadas pelos sistemas de genealogia. Convém sempre analisar com cautela o que eles sugerem e buscar evidências nos documentos disponíveis.
José Araújo é genealogista.