Tenho em minha árvore dois aparentados que demonstraram grande tino para os negócios e com os quais eu teria muito a aprender. O primeiro deles era meio-irmão de meu pai e foi em sua homenagem que recebi meu prenome. Já contei sua história aqui no blogue. O segundo é alguém mais distante em termos genealógicos, mas gosto de me referir a ele como um primo, tal como fiz com outros personagens com os quais tenho antepassados em comum.

Esse primo – Irineu – nasceu no Rio Grande do Sul em 1813 e ficou órfão de pai antes de completar dez anos. Sua mãe se casaria novamente e porque o novo marido não quis conviver com os filhos do primeiro casamento da mulher, Irineu foi enviado para o Rio de Janeiro aos cuidados de seu tio materno, enquanto Guilhermina, sua única irmã, foi dada em casamento aos 14 anos.

Na capital do império, Irineu foi empregado do comércio e trabalhou como caixeiro até que, em 1830, por indicação de seu antigo patrão, foi admitido na empresa de importação de Richard Carruthers, com quem aprendeu inglês e contabilidade. Irineu acabou tendo sociedade e assumindo os negócios integralmente quando Mr. Carruthers voltou para a Inglaterra sete anos depois.

Na esteira da modernização da economia brasileira que ocorreu na segunda metade do século XIX, Irineu empreendeu em diversos segmentos – estaleiros, manufaturas, finanças – e foi por sua iniciativa que se inaugurou em 1854 a primeira estrada de ferro do Brasil, que ia do porto de Mauá até a raiz da serra de Petrópolis. Por essa iniciativa ele recebeu o título de Barão de Mauá. Também por sua iniciativa foi instalada a iluminação a gás no Rio de Janeiro, se iniciou a navegação a vapor no Amazonas e se instalou o cabo telegráfico que permitiu a comunicação do Brasil com o mundo.

Vinte anos depois de receber o título de barão, recebeu o de visconde com grandeza, pelo que passou à posteridade como o visconde de Mauá. Era então um dos primeiros industriais e dos homens mais ricos de sua época, mas foi justamente nesse momento que seus negócios começaram a sofrer derrocadas em função da crise financeira. Decretada a falência, vendeu seus bens móveis e imóveis. Essa história é contada no filme Mauá – O Imperador e o Rei (1999), dirigido por Sérgio Rezende.

Barão de Mauá — litografia de S. A. Sisson ao final da década de 1850

Irineu foi casado com sua sobrinha Maria Joaquina, a quem chamava carinhosamente de May. O casal teve 18 filhos, dos quais 11 não foram natimortos, sete atingiram a maioridade e apenas cinco sobreviveram após a morte do pai em Petrópolis em 21 de outubro de 1889. Apenas quatro destes últimos tiveram descendência. Por seu ramo materno, Irineu descendia do cristão-novo Sebastião de Freitas – seu hexavô – e de Baltazar de Moraes de Antas – seu heptavô e meu tridecavô por intermédio de minha tetravó materna Maria Tereza da Paz (1791-1855).


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista