10 Tratava Maria da Cunha, Dona viúva, com todo o segredo, de casar a uma filha sua, por nome Maria do Lago Prego, com o capitão João Lopes do Lago, & por encontrarem os parentes dela este casamento, nem se sabia determinar a efetuá-lo. No meio desta irresolução, estando na sua fazenda, distante da cidade mais de seis léguas, lhe mandou dizer o padre ALMEIDA que o negócio que trazia em mão do casamento de sua filha o efetuasse logo, sem reparar na contrariedade do parentesco porque era assim serviço de Deus. Com este aviso, pôs em execução o casamento & julgou que o p. ALMEIDA tivera sobrenaturalmente notícia dele, porque o tratava com grande segredo, & e nem ela nem os parentes lho haviam comunicado. Ambos estes casos estão jurados no processo do Rio de Janeiro. _ In: VASCONCELOS, Simão de. Vida do p. Joam d’Almeida da companhia de Iesu, na provincia do Brazil. Lisboa, 1658, pp. 265-266.
Este trecho de obra já citada do padre jesuíta Simão de Vasconcelos (1597-1671) – considerado “um dos mais sofisticados intelectuais jesuítas a ter construído uma das primeiras obras a descrever o Brasil de norte a sul“ – parece trazer a resolução de um parentesco que não está descrito na obra Primeiras Famílias do Rio de Janeiro, do mestre Carlos Rheingantz.
No volume II, p. 433, da obra citada, Rheingantz apresenta João Lopes do Lago sem informar sua naturalidade ou filiação:
JOÃO LOPES DO LAGO, capitão, n. por volta de 1622 e fal. antes de 1665, casado por volta de 1652 com Maria do Lago, n. por volta de 1632 e fal. no Rio (Candelária 2º, 93) a 4.7.1692.
Maria do Lago Prego era filha de Antônio do Lago Prego e Maria da Cunha, a dona viúva que está descrita no parágrafo inicial deste texto. Por seu ramo paterno, Maria do Lago Prego era neta paterna de André Rodrigues do Lago e Madalena Gonçalves Prego, segundo se declara na página 381 do já citado Volume II de Primeiras Famílias do Rio de Janeiro.
ANTÔNIO DO LAGO PREGO – juiz ordinário em 1640, n. por volta de 1586, fal. filho de André Rodrigues do Lago e de Madalena Goncalves Prego, naturais de Viana do Castelo, casado no Rio (Sé, 1º, 3v) a 19.6.1616 com Maria da Cunha, filha de Domingos Nunes Sardinha (fal. antes de 1616) e de Maria da Cunha
Ora, o parágrafo inicial informa que a mãe de Maria do Lago estava insegura quanto ao seu casamento com João Lopes do Lago por “encontrarem os parentes […] este casamento” e porque haveria “contrariedade do parentesco”. Essas duas expressões, combinadas aos sobrenomes que se repetem, sugerem fortemente que os candidatos a casar eram aparentados. Talvez isso explique o segredo com que a viúva Maria da Cunha conduzia o negócio do casamento, pois teria de haver uma dispensa de consanguinidade.
Acredito que o pai de João Lopes do Lago, sobre quem nada sabemos até o momento, fosse filho dos mesmos André Rodrigues do Lago e Madalena Gonçalves Prego. Dessa forma, João Lopes do Lago e sua noiva Maria do Lago Prego, meus eneavós maternos, seriam primos de primeiro grau. A dispensa de consanguinidade talvez tenha sido assegurada pelo onisciente padre João de Almeida (1572-1653), que orientou Maria da Cunha a prosseguir com o casamento da filha.
José Araújo é genealogista.
1 comentário
Intervenção – Genealogia Prática · 5 de março de 2023 às 06:53
[…] “com grande segredo” por causa da “contrariedade do parentesco” – os noivos deveriam mesmo ser primos -, o que seria um obstáculo para o enlace. Para minha sorte, parece que o padre João recebeu uma […]
Os comentários estão fechados.