Aos vinte e dois dias do mês de janeiro de mil seiscentos e setenta e cinco, às cinco horas da tarde, em minha presença na Igreja do Senhor São José, se casaram por palavras de presente, com bênçãos, Pascoal Pereira Lobo, filho de Antônio Lobo Pereira, com Isabel Fernandes, filha de Antônio Fernandes Trigueiro, todos naturais desta cidade. Assistiram por testemunhas Sebastião Gomes e […] e Margarida de Aguiar. De que fiz este termo e assinei no próprio dia era […] acima.
O registro matrimonial acima não traz muitas informações a respeito dos nubentes além de suas filiações parciais – pela ausência dos nomes de suas mães – e sua naturalidade: ambos nasceram na cidade do Rio de Janeiro. Pascoal Pereira Lobo poderia ter nascido por volta de 1650, se considerarmos que teria ao menos 20 anos na data de seu casamento. A única informação que pode ajudar a descobrir quem ele era está no registro do óbito de Antônio Lobo Pereira, que falecera quatro anos antes e está identificado acima como seu pai. É a transcrição de seu óbito e do testamento nele contido que lemos abaixo.
Aos quinze do mês novembro [de 1671] faleceu Antônio Lobo Pereira. Recebeu os sacramentos, fez seu testamento e nele dispôs seu corpo fosse amortalhado no hábito de São Francisco. […] Nomeou por seus testamenteiros a sua mulher Dona Ana da Silva e a seu irmão Diogo Logo Pereira e a seu cunhado João Correa da Silva. […] Mandou que se dessem mil cruzados à Casa da Misericórdia desta cidade para lhe instituir uma capela de missas perpétua a qual se daria no sábado de cada semana a N.Sª por sua alma e pela de sua mãe Isabel dos Rios. […] Declarou que era natural desta cidade, filho legítimo de Sebastião Lobo Pereira e de Izabel dos Rios, que era casado com Dona Ana da Silva, da qual não tinha filhos por outra via herdeiro algum […] Declarou que sendo solteiro tivera de uma escrava sua três filhos, a saber: Diogo Lobo Pereira, Pascoal Pereira e Domingos Pereira, aos quais tinha dado por benefício de seu trabalho umas […] terras que possuem e que […] de novo lhas tornava a dar.
O registro de óbito de Antônio Lobo Pereira nos informa que ele era filho de Izabel dos Rios, o que o torna bisneto de Duarte Nunes e Maria Fernandes, meus duodecavós maternos, que eram cristãos-novos. Ele também me informa que Pascoal Pereira Lobo e seus irmãos Diogo e Domingos seriam provavelmente os mais remotos afrodescendentes registrados em um ramo de minha árvore materna – as mais próximas sendo minhas bisavós Theodora e Argemira, já no século XIX. Interessante notar que embora Antônio tenha reconhecido os filhos que teve com sua escrava e doado terras a eles, essa doação parece ter sido resultado do trabalho que seus filhos realizaram para ele. Filhos esses que não se tornaram seus herdeiros legítimos e legais.
Observação: Rheingantz (Vol. II, p. 408) considera que Diogo Lobo e Domingos Pereira eram filhos de Ana da Silva, o que se desmente na transcrição parcial do testamento de Antônio Lobo Pereira, acima, em que ele declara que não teve descendência com sua esposa.
José Araújo é genealogista.