A ferramenta de busca por texto completo do FamilySearch, que já recomendei em outro texto, tem trazido revelações sobre meus ramos familiares maternos que não seriam possíveis se tivesse de recorrer apenas aos livros paroquiais, pois há falta de inúmeros deles relativos à freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, onde minha família viveu a partir da segunda metade do século XIX. Muitas dessas revelações têm sido possíveis pela descoberta de inventários de famílias com os quais meus antepassados conviveram por vínculos trágicos como a escravidão e por outros ainda mal compreendidos no momento pós-escravidão. Essas mesmas revelações têm-me obrigado a rever algumas análises anteriores fundamentadas em resultados de testes genéticos feitos por mim (J) e por meus primos maternos Regina (R), Suely (S), Thais (T) e Wilsomar (W).
O primeiro caso de revisão foi desencadeado por descobertas que têm relação com o assento de batimo da menina Rita, que acredito ter sido irmã de minha trisavó materna Julinda Dias Seabra (1843-1884) – que também é trisavó de Regina, Thais e Wilsomar. É desse assento de batismo a imagem que vemos abaixo e cujo conteúdo lemos em transcrição a seguir.

Aos oito dias do mês de setembro de mil oitocentos e trinta e nove anos, nesta freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, batizei solenemente e pus os santos óleos à inocente Rita, filha natural de Eleutéria Rosa da Conceição. Nasceu a oito de março. Foram padrinhos Joaquim José da Silva Torres, por procuração a João Batista da Silva, e Rita Maria da Silva. E para constar fiz este assento.
As identidades do pai de Rita e de seu avô materno eram desconhecidas no momento em que encontrei seu assento de batismo. Na busca para esclarecer sua filiação, usei a estratégia de investigar uma possível relação com as pessoas citadas no assento e dei preferência ao padrinho, que apresentava um nome longo e que, por isso, não deveria ter muitos homônimos na freguesia de Jacutinga. Descobri que ele fora casado com uma mulher chamada Bibiana Emília de Moura (1853-1909), em cuja certidão de óbito se declarou apenas que era uma mulher “de cor branca, idade cinquenta e seis anos […] natural do estado do Rio, residente em Maxambomba […] viúva de Joaquim Torres da Silva, deixando seis filhos […]”.
Consegui encontrar o registro de batismo de uma das filhas de Joaquim José e Bibiana, mas não havia nomeação dos avós paternos ou maternos, pelo que a possibilidade de esclarecer um possível parentesco entre Joaquim José, Bibiana e minha trisavó Julinda ficou travada por algum tempo até que… Isso mesmo: até que descobri a possibilidade de buscar inventários de famílias de Santo Antônio de Jacutinga por meio da ferramenta de busca por texto completo do FamilySearch. E foi graças a ela que, enquanto pesquisava pelo nome de Joaquim José, encontrei o inventário de Constância Inácia de Moura Duarte, falecida em 15 de setembro de 1879.
Por meio desse inventário descobri que Joaquim José havia sido tutor do órfão Cristóvão de Souza Moura, que era herdeiro de Constância Inácia. Suspeitei que se Joaquim havia sido tutor de um menor que tinha o mesmo sobrenome – Moura – de sua esposa, poderia haver um parentesco entre ela e o jovem. E foi isso que confirmei lendo o inventário de Constância Inácia, cuja seção de nomeação dos herdeiros transcrevo a seguir:
“Irmãos da falecida [Constância Inácia de Moura Duarte]:
- O inventariante, por cabeça de sua esposa Augusta Cândida de Moura
- Evaristo Malaquias França de Souza, por sua finada mãe Angélica de Souza Moura
- Henriqueta Dias de Moura Garcês
- Adelaide de Moura Gonçalves
- Ricardina Silvana de Moura Peixoto
- Elpídio ? Dias de Moura
- Juvenal de Souza Dias de Moura
- Gabriela Angélica Dias de Moura
- Balbina Severina de Moura
- Henrique de Souza Dias de Moura
- Cristóvão de Souza Dias de Moura (menor)
- Julieta de Souza Dias de Moura (menor)
Estes dez [os nomeados de 3 a 12] herdeiros representando seu finado pai o Major Brás de Souza Dias de Moura [irmão da inventariada Constância Inácia].
- Páscoa Maria de Souza Moura Pires
- Bibiana Emília de Moura Torres
- Joaquim Soares de Souza Moura (menor)
- Cristóvão de Souza Moura (menor) [tutelado pelo marido de Bibiana]
Estes quatro herdeiros representando seu finado pai o capitão Miguel de Souza Moura [irmão da inventariada Constância Inácia].”
O trecho acima não apenas confirma que Bibiana era irmã de Cristóvão, como ainda revela a filiação de ambos no capitão Miguel de Souza Moura (1824-1874), que foi casado com Joana Faustina de Moura (1807-1862). Esclarecida a ascendência de Bibiana, passei a olhar para sua descendência e nela encontrei uma bisneta chamada Nelly, que é uma já conhecida correspondência (match) de DNA com quem eu compartilho significativos 52 cM. Infelizmente, Nelly fez o teste de DNA pelo Genera, que não permite descobrir em qual segmento de qual cromossomo compartilhamos mais DNA autossômico.
Ainda entre os matches meus e de meus primos revi um chamado João, com quem eu compartilho significativos 62,8 cM no cromossomo 18, mesma posição em que ele compartilha essa mesma quantidade de cM com meu primo Wilsomar. Trocando em miúdos, eu, meu primo e João temos um longo segmento triangulado no cromossomo 18, ocupando quase toda a extensão desse curto cromossomo, como se vê na imagem abaixo. Essa triangulação deixa claro que nós três herdamos esse segmento de um mesmo antepassado.

Olhando para a ascendência de João, observei que ele é trineto de Joaquim Soares de Moura, que foi irmão de Bibiana, portanto também filho do capitão Miguel de Souza Moura. João é também match – com 27,5 cM, porém sem triangulação de segmento – de Thais, que é prima minha e de Wilsomar justamente pelo ramo de nossa trisavó Julinda, irmã da menina que teve por padrinho o marido de Bibiana. Isso talvez sugira por qual ramo venha nosso parentesco com os Moura.
Em texto anterior, eu já havia analisado esses matches entre mim, meus primos, João e Nelly. E ainda incluí mais três matches na análise: José Roberto, Camilla e Evelyn. Todos eles pareciam estar relacionados ao casal Antônio da Silva Amaral e Leocádia Clara de Souza. Naquele texto, supus que a descoberta de tantos matches relacionados diretamente – ou remotamente no caso de José Roberto – ao casal deveria significar que um ramo de minha família materna estaria relacionado a eles. Mas agora começo a acreditar que possa (também) haver uma relação pelos Moura.

O match José Roberto compartilha 28 cM apenas com minha prima Regina – também trineta de Julinda – e agora se torna instrumental nesta nova interpretação, pois ele não descende diretamente do casal Antônio-Leocádia, e sim, por ramos diferentes, dos irmãos Cristóvão de Souza Moura e Inácio Cândido de Moura, ambos irmãos da inventariada Constância Inácia de Moura. No ramo ascendente comum entre José Roberto, João e Nelly se encontra o patriarca Manoel de Moura Álvares (1752-?), que foi casado com Eugênia Inácia da Conceição (1739-?).
E nesta análise de minha possível ascendência nos Moura incluo ainda Beatriz e Juliana, mãe e filha, que aparecem para mim como matches no FamilyTreeDNA – e para minhas primas Regina e Simone no GEDMatch – , compartilhando aproximadamente 20 cM, sem identificação de por qual cromossomo haveria uma possível triangulação. Até então, eu tinha certeza de que minha relação familiar com elas se daria pela descendência do patriarca Francisco Antônio Pereira de Faria (1746-1833), português que no Brasil passou a assinar como Pereira Belém. Elas descendem de João Pereira de Faria, filho do patriarca, que suspeito ser também o avô materno de meu bisavô João Pereira Belém, como explico em texto recente.
Beatriz e sua filha são também Moura, pois descendem do casal Manoel de Moura Álvares e Eugênia Inácia da Conceição, que está na ascendência dos matches Nelly, José Roberto e João. Manoel de Moura Álvares, por sinal, está na mesma geração de Francisco Antônio Pereira Belém, havendo uma diferença de apenas seis anos entre os nascimentos deles. O curioso, visto que tanto eu quanto meus primos podemos descender dos mesmos ramos de que descendem Beatriz e sua filha, é que tenhamos bem menos DNA compartilhado com elas do que temos com João e Nelly, por exemplo.
Um fator adicional a ser considerado nessa revisão em favor de uma ligação com os Moura é o fato de que meus tios-avós tiveram por padrinhos e madrinhas de batismo pessoas relacionadas a essa família, especialmente no ramo descendente de Joaquim Mariano de Moura filho, que era neto do patriarca Manoel de Moura Álvares e foi casado com uma neta do patriarca Francisco Antônio Pereira Belém. Vejamos: (1) meu tio-avô João Pereira Belém (1881-1948) teve por padrinhos Galdino Pereira Ramos, filho de Maria Teresa de Jesus (Pereira Belém), e Saloméa de Moura Cortes, filha de Leocádio Pamplona Cortes (Pereira Belém) e Adelaide Leopoldina de Moura (Pereira Belém-Moura); (2) minha tia-avó Maria Pereira Belém (1894-1973) teve por madrinha Maria Paula de Moura Souza, irmã de Saloméa, e por padrinho um homem chamado José Antônio de Souza, que poderia ser irmão de Maria Paula, visto que o nome do pai dela era Manoel Antônio de Souza Filho; (3) meu tio-avô Sérvulo (ou Anselmo) teve por padrinho um homem solteiro chamado João José de Souza, que poderia estar relacionado ao ramo de Maria Paula; (4) minha tia-avó Esmeralda Pereira Belém (1903-1950), enfim, teve por padrinhos os irmãos Álvaro Vieira de Moura Sá e Bráulia Olímpia de Moura Sá, filhos de Inês Henriqueta de Moura (Pereira Belém-Moura).
A árvore que se vê a seguir reúne os padrinhos e madrinhas de meus tios-avós (vermelho, exceto os casos ainda não esclarecidos de José Antônio de Souza e João José de Souza), os matches de DNA autossômico meus e de meus primos (preto) e suas ascendências nos ramos Moura (azul) e Pereira Belém (verde). Em violeta se destacam pessoas que descendem de ambos esses ramos. A confluência de todos nos patriarcas Manoel de Moura Álvares e Francisco Antônio Pereira Belém sugere que um de meus antepassados maternos se encontrava nesses ramos que se unem no casal Joaquim Mariano de Moura Filho e Joana Maria de Jesus – talvez Joaquim seja o pai desconhecido de uma antepassada cuja filiação ainda desconheço.

A análise deixou de fora os matches Evelyn e Camilla, que não se relacionam aos ramos destacados aqui. Por ora, seguem como uma possível indicação de ascendência no casal Antônio da Silva Amaral e Leocádia Clara de Souza a ser escolarecida.
José Araújo é genealogista.