Vital Gomes Freire, pároco da freguesia de Nossa Senhora da Conceição, digo, de Santo Antônio de Jacutinga, certifico que em três dias festivos acima apontados [nota: 19 e 26 de abril e 1º de maio] […]ação da missa conventual, denunciei os contraentes conteúdos neste banho, acerca dos quais ainda até agora ninguém tem revelado impedimento algum para o matrimônio que intentam, nem eu sei. O assento do batizamento de Félix Pereira Barbosa não se acha no livro que [possuo] em meu poder. Assim e na verdade portanto o juro in verbo […]. Em Santo Antônio de Jacutinga aos oito de maio de mil setecentos e quarenta e quatro anos.

Esse trecho do processo matrimonial (banho) de Félix Pereira Barbosa e Rita Correia de Jesus – encontrado na Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro (Cx. 3044, Not. 73807) – revela que já no século XVIII existia um problema que enfrento nos dias atuais: a ausência de informações nos livros paroquiais da freguesia de Santo Antônio de Jacutinga. Na verdade, o pároco relatou que não encontrou o assento de batismo do noivo no livro que estava em seu poder, enquanto o problema atual tem relação com a simples ausência dos livros, que podem ter sido perdidos pela ação do tempo e má conservação ou – como suspeita uma prima genealogista – extraviados.
Neste caso, felizmente, a naturalidade e filiação do noivo eram conhecidas e foram declaradas no próprio processo de banho. Sobre a noiva Rita Correa, batizada na freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá, a situação era um pouco mais delicada, como lemos em outro trecho do processo.
Com o favor de Deus, quer casar Félix Pereira Barbosa, batizado na freguesia de Santo Antônio de Jacutinga e morador na freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, filho legítimo de Manoel Pereira da Costa e de sua mulher Leonor Barbosa, com Rita Correia, viúva que ficou de Pedro Rodrigues, batizada na freguesia de Irajá e moradora na freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu, exposta que foi de Domingos João Pavão.
Rita, portanto, era filha de pais desconhecidos e foi abandonada no lar de um homem chamado Domingos João Pavão, de quem só se sabe que era brasileiro e filho de Francisco João e Faustina Rodrigues (Pavão). É possível que ele fosse o pai biológico de Rita, mas nenhuma fonte atestou isso até agora.
Do casamento de Rita e Félix nasceu Joana Maria de Jesus, que se casou em 1782 com o português Francisco Antônio Pereira de Faria (1746-1833), pai de João Pereira de Faria (1783-1833), que acredito ter sido o pai de meu bisavô João Pereira Belém (1848-1921).
Encontrar expostos na ascendência não é incomum, pode motivar a interrupção da pesquisa, mas acaba sendo um estímulo para continuar uma investigação, pois pode ser que surja um documento em que a identidade do pai seja revelada.
José Araújo é genealogista.