A Genealogia é uma ciência colaborativa e deveria ser sempre assim, pois a pesquisa feita por um genealogista sempre alimenta a pesquisa dos que virão depois dele. Para entender essa verdade, basta pensar na importância que tiveram grandes mestres como Rheingantz e Silva Leme, que, se tivessem apenas guardado suas anotações, não nos teriam legado as obras monumentais que até hoje orientam nossas pesquisas. Essas obras sempre poderão ser aperfeiçoadas e ampliadas, mas a contribuição que elas já nos dão é incontestável. Para além da publicação dos resultados das pesquisas em obras e artigos de revistas temáticas, há que se falar também na ajuda que um genealogista dá aos seus pares e que já tive a possibilidade de experimentar algumas vezes.
A mais recente delas veio de um primo distante que descobri a partir de um match encontrado na plataforma GEDmatch. Falei brevemente dele no texto anterior, mas não abordei a intensa conversa que temos mantido desde então. Esse primo, chamado Miguel, pertence a um ramo dos Seabra de Duas Igrejas e Cristelo de quem também descendo por meu tetravô Pedro Dias de Seabra, que desembarcou no Rio de Janeiro em 1837. Miguel se mostrou tão entusiasmado pela descoberta que passou a colaborar com minha busca pela ascendência desse ramo comum.
Uma de suas colaborações veio pela descoberta de um processo de diligência de habilitação a algum cargo do Santo Ofício da Inquisição, provavelmente o de familiar, para um indivíduo chamado Pedro Dias de Seabra. Não se tratava de meu tetravô, pois o processo, que está incompleto, foi iniciado em 1734, mais de um século antes desse meu antepassado nascer. Miguel chegou a questionar se o processo teria relação com nosso ramo comum. E tinha!
Embora seja um fragmento de apenas oito páginas, o documento informa os nomes dos pais e avós do habilitando Pedro, que descobri ter sido batizado em 14 de outubro de 1690 na freguesia de Duas Igrejas. Como se lê no processo, ele era “filho legítimo de Antônio de Seabra, lavrador […] e de Catarina Gonçalves […] neto por via paterna de Gonçalo de Seabra […] e de Maria Dias […], neto por via materna de Gonçalo Antônio […] e de Maria Dias“. Pelo nome de seus pais, descobri que o habilitando Pedro Dias de Seabra era irmão inteiro de Antônio de Seabra (1693-1759), que se casou em 31 de janeiro de 1718 com Maria Dias (1725-?), originando o ramo que chega a meu tetravô Pedro, de quem eles foram trisavós.
Pelo processo se informava também que o parente distante que desejava atuar em nome da Inquisição era morador no engenho de Sergipe do Conde, localizado no Recôncavo Baiano, e estava recém-casado com “Ana Pereira Marinho, filha legítima do capitão Vasco Marinho Falcão […] e de sua mulher dona Catarina de Tal, pessoas principais ou das principais famílias desta terra“, dos quais falarei mais no próximo texto desta série em uma análise que pode contribuir para atualizar um ramo descencente de tradicional família baiana descrita em obra já clássica da Genealogia brasileira.

Embora não haja informações sobre o sucesso da habilitação de Pedro Dias de Seabra, ela já nos informa de um ramo de nossa ascendência pelos Seabra que estava no Brasil há bastante tempo e até se ligando a famílias da elite local. Depois desse processo encontrei ainda o de Joaquim José de Seabra, sobrinho-neto do habilitando Pedro, iniciado em 1797; e o de Pedro Coelho de Seabra, provavelmente relacionado ao mesmo ramo familiar, iniciado em 1779.
Toda essa informação foi compartilhada e graças à colaboração entre mim e Miguel chegamos a Diogo de Seabra, nosso antepassado mais remoto até o momento, que faleceu em 4 de junho de 1626 na mesma freguesia de Duas Igrejas.
José Araújo é genealogista.