Desde que fiz um teste de DNA autossômico pelo FTDNA venho acompanhando as correspondências genéticas (matches) em busca do que possam me revelar sobre meus antepassados e, especialmente, sobre os antepassados cujos ramos específicos se encontravam incompletos pela existência de filhos naturais apenas de suas mães. Alguns desses matches eu tenho seguido bem de perto, pois eles também surgiram para meus primos, cujos testes foram realizados depois do meu. Em um caso específico, cheguei a manter breve conversa com o match de sobrenome FA, que gerenciava seu teste próprio e os de seu pai e tio paterno, todos eles em comum comigo e minha prima materna Regina. Embora a conversa não tenha surtido o efeito que eu esperava, eu já sabia por qual de meus ramos familiares se dava o parentesco. A situação permaneceu inalterada até que…

Durante o acompanhamento desses matches em diferentes plataformas, observei que surgiram outros matches em comum conosco e decidi que era o momento de aprofundar a busca por nosso n-avô comum mais remoto. Para isso deveria haver ao menos um segmento triangulado entre todos nós, o que sinalizaria que herdamos aquele trecho específico de nosso DNA autossômico desse n-avô, fosse lá em que geração que ele estivesse. Pois esse segmento foi encontrado pela ferramenta do MyHeritage – e em parte confirmado pela do FTDNA – e estava no cromossomo 4, na posição genômica 105 171 008 – 116 173 928, com extensão de 11,7 cM, que pode ser considerada muito boa porque reduziria a apenas 5% o risco de serem falsos matches. Essa triangulação é apresentada no gráfico abaixo, onde identifico os matches em comum comigo – minha prima Regina; os membros da família FA: Amílcar, seu irmão Adilson e o filho deste chamado Maurílio; JorgeLP e AnaMC, que são primos mais próximos entre si.

A partir da posição genômica informada, usei a ferramenta Chromosome Painter do FTDNA para identificar a origem geográfica dos segmentos específicos em meu próprio genoma, pelo que localizei dois trechos contíguos de origem Europeia e da África do Norte e Oriente Médio no haplótipo 1 e um trecho contínuo de África do Norte e Oriente Médio no haplótipo 2. Em ambos os casos, esses trechos parecem estar relacionados a uma origem ibérica, pois podemos considerar que o trecho misto tenha relação com a presença moura na Península Ibérica entre os séculos VII e XV. Salvo engano, nosso n-avô em comum seria uma pessoa de origem europeia.

Matches triangulados e coloridos

Na sequência, elaborei as árvores de todos os matches em comum até chegar a um candidato plausível para nosso n-avô comum. O resultado é a árvore consolidada que se vê abaixo e que tem por antepassados em comum o casal Lourenço Martins Coelho e Felícia Francisca de Jesus Guimarães, esta possuidora de um sobrenome que também encontro em um de meus ramos maternos para os quais apresentei resolução recente pela descoberta do pai de meu bisavô Artur, que estava ausente na documentação paroquial disponível. Felícia era filha do tenente Manoel Francisco Guimarães e Vitória Maria de Jesus, casados em Minas Gerais. Manoel Francisco, por uma feliz coincidência, era natural de Fafe, no concelho de Braga, Portugal, mesmo município de origem de Antônio Rebelo Guimarães, o pai de meu bisavô Artur.

Árvores dos matches

A diferença estaria apenas na freguesia: Manoel Francisco era natural de Armil e Antônio, de Queimadela, mas a descoberta desse n-avô comum potencial sinaliza um campo para novas pesquisas na busca de confirmação de um parentesco entre os dois patriarcas ou de uma descendência direta do tenente Manoel Francisco que possa ter relação com um antepassado meu nascido no Brasil. Esse campo apenas foi encontrado pela triangulação e pintura dos cromossomos e pela elaboração das árvores genealógicas dos matches.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista