Em um texto já antigo aqui no blogue apresentei o caso da busca da paternidade de meu bisavô materno Artur Rabelo Guimarães (1868-1917), cujos registros documentais informavam apenas que era “filho natural de Julinda Dias Seabra”. Mencionei naquele texto que a disparidade de sobrenomes de mãe e filho e a presença na cidade de uma família com o mesmo sobrenome de Artur indicava a possibilidade de uma perfilhação, embora até seu casamento com minha bisavó Argemira ele ainda fosse identificado como filho de pai desconhecido.

Assento de Casamento de Arthur e Argemira – 24/02/1894 – Nova Iguaçu, Rio de Janeiro

Aos 24 dias do mês de fevereiro de 1894, nesta paroquial igreja de Santo Antônio de Jacutinga, na minha presença compareceram os nubentes Artur Rabelo Guimarães e Argemira Pereira da Silva para se receberem por marido e mulher; ele solteiro, da idade de 25 anos, filho natural de Julinda Dias Seabra, falecida, natural e [moradora] nesta mesma freguesia; ela, também solteira, da idade de 20 anos, filha natural de Maria Pereira do Céu, falecida, moradora e natural desta mesma freguesia; os quais uni em matrimônio segundo o rito da santa madre igreja católica, apostólica, romana. Foram testemunhas o capitão Augusto [Monteiro Diniz] e tenente [Américo Alves] Diniz. Para constar fiz este termo que firmo. Era ut supra.

Fundamentado apenas pelos aspectos onomástico e geográfico – a semelhança do sobrenome de outra família na mesma cidade – fiz uma análise em que cheguei a quatro candidatos a pai de Artur: padre Antônio Joaquim Rebelo Guimarães (1820-1877) e seus sobrinhos Antônio Rebelo Guimarães (1846-1888), Francisco Rebelo (1850-1936) e Serafim Rabelo Guimarães Sobrinho (1856-1927), estes filhos do casal Domingos Rebelo Guimarães (1812-1862) e Maria Gonçalves Moreira (1825-?).

Serafim era jovem demais para ter um filho em 1868, portanto pudemos descartá-lo da análise. Todos os citados eram naturais da vila de Queimadela, no município de Fafe, em Braga, Portugal, mas migraram para o Brasil em algum momento. Apenas de Francisco não houve registro de estadia ou moradia em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, onde meu bisavô nasceu e faleceu, portanto pudemos descartá-lo também.

A solução do caso dependeria, portanto, de uma evidência que atestasse que o pai de Artur seria um dos membros já citados dos Rebelo Guimarães de Fafe – excluídos aqueles que sabemos serem inviáveis pelo fator idade ou por jamais haverem estado no Brasil – ou seja, padre Antônio ou seu sobrinho homônimo. Essa evidência surgiu há alguns meses por meio de uma correspondência (match), com 48,9 cM, no teste de DNA de um de meus primos maternos que também é bisneto de Artur.

Esse match é uma mulher paulista que vou identificar apenas como Marina. O pai de Marina era natural da vila de Monte, que fica perto de Queimadela, mas seu avô Antônio Rebelo (1886-1938) era natural de Queimadela e filho do já citado Francisco Rebelo. Marina e seu pai, portanto, também descendem do casal Domingos Rebelo Guimarães e Maria Gonçalves Moreira.

Visto que já temos evidências mais que suficientes – agora geográfico-onomásticas e genéticas – de que o pai de Artur era mesmo um dos varões de Fafe, devemos buscar a solução menos complexa. Nesse caso, devemos levar em conta primeiramente que padre Antônio Joaquim havia feito um voto de castidade que, se não impedia, tornaria a geração de um filho bastardo um grande inconveniente perante a sociedade. Além disso, o padre tinha um sobrinho homônimo 20 anos mais jovem e solteiro quando Artur nasceu em 1868, portanto entendo ser esse sobrinho meu trisavô materno.

Após ter o filho Artur com Julinda, Antônio Rabelo Guimarães casou-se em 1883 com Isabel Gomes Monte, com quem teve ao menos uma filha que, por coincidência, recebeu o mesmo nome da pessoa cuja correspondência no teste de DNA ajudou a esclarecer esse caso de paternidade. Antônio faleceu apenas alguns anos após se casar com Isabel, conforme se constata pelo anúncio de missa publicado no Jornal do Commercio em 14 de abril de 1888.

Jornal do Commercio – 14/04/1888

Com essa solução tive o prazer de esclarecer a filiação de mais um de meus bisavôs maternos. O outro caso também foi publicado neste blogue.


Jose Araújo é genealogista.