Um dos enigmas mais persistentes em minha árvore familiar – e que foi tema de várias postagens aqui no blogue – parece se aproximar de uma solução. Graças à publicação dos resultados da pesquisa documental, aos testes genéticos e ao contato frequente com parentes do ramo específico – o materno -, pressinto a chegada do momento em que conseguirei unir os meus antepassados Pereira Belém, identificados documentalmente como pardos, aos Pereira Belém e aos Soares da Silva, brancos, cafeicultores e proprietários de escravos em Bananal de Itaguaí, hoje Seropédica, no Rio de Janeiro.

Como essa união era esperada, porém ainda carecesse de provas documentais, minha estratégia foi elaborar duas árvores: uma para minha família materna conhecida e devidamente documentada e outra para a dos Pereira Belém-Soares da Silva – famílias cujos membros se casaram inúmeras vezes no século XIX e nas quais certamente estará a origem de meu bisavô materno João Pereira Belém. O desafio seria a descoberta de como fundir as árvores ou, usando uma metáfora botânica, como enxertar a árvore deles, contendo uma centena de pessoas, à minha, que em ambos os costados conta mais de 2700 pessoas de Portugal e do Brasil. As evidências genéticas e documentais que apresentei em outro texto demonstram que meu bisavô descenderia de um dos Pereira Belém ou de um descendente do casamento de um Pereira Belém com um Soares da Silva.

Até o momento não foi possível identificar o antepassado em comum que permitiria o enxerto exato, mas tive a sorte de realizar um enxerto provisório entre as árvores após divulgar, no grupo da família que mantenho no WhatsApp, um texto recentemente publicado aqui. Ao lê-lo uma prima teve sua atenção despertada para o sobrenome Pamplona Cortes. Ela comentou que dois primos seus tinham o sobrenome Cortes. Eles eram filhos de uma irmã de seu pai – que não é um Pereira Belém – com um Cortes. Pude localizar alguns documentos sobre os pais deles no FamilySearch e tive a grata surpresa de constatar que descendiam de Leocádio Pamplona Cortes (ca. 1820-ca.1868), homem de destaque na sociedade de Bananal de Itaguaí no século XIX.

Leocádio casou-se duas vezes com mulheres da família Pereira Belém, ambas netas de Francisco Antônio Pereira Belém, até o momento patriarca dos Pereira Belém brancos e cafeicultores. Seu primeiro casamento foi com Maria José Belém, filha de Pedro Cipriano Pereira Belém; o segundo, com Carolina Tereza de Jesus (ca. 1820 – ca. 1849) – de quem os primos de minha prima descendem diretamente. Um teste genético feito por um desse primos poderia comprovar que todos nós temos um ascendente em comum, mas por enquanto nos ateremos a questões documentais.

É grande a satisfação de comprovar que parte de minha família materna esteve, ainda que indiretamente, relacionada aos fazendeiros que podem estar em sua origem. Poderá haver outros pontos de contato entre as famílias brancas e a parda que justificarão mais ramos conectados até que se chegue a um candidato mais provável para ocupar o lugar do antepassado em comum.

Feito esse relato, preciso comentar dois assuntos de natureza prática decorrentes da experiência e que podem ser úteis a outros pesquisadores:

(1) É recomendado fazer árvores separadas para ramos ainda não comprovadamente relacionados?

Certa vez divulguei um texto sobre essa estratégia em um grupo do Facebook e um colega comentou que jamais faria isso, preferindo manter os ramos na mesma árvore, ainda que não estivessem vinculados entre si. Como já precisei separar um ramo por não haver ligação comprovada com o restante da árvore, gerando assim um ramo órfão com algumas dezenas de pessoas, posso informar que a manutenção de um ramo não relacionado à árvore principal eventualmente se torna um problema, pois embora esse ramo geralmente fique oculto, seus membros sempre serão considerados no cômputo total de familiares, embora possam não o ser de facto. Já a criação árvores apartadas pode ser mais trabalhosa, mas é mais segura, pois, na comprovação da relação entre ramos, uma delas pode ser exportada no formato GEDCOM e enxertada – nas ferramentas usa-se a opção merge – na outra. Na ausência dessa comprovação, o ramo desconexo criado de forma autônoma poderá apenas ser ignorado ou ainda aproveitado por outros pesquisadores.

(2) As ferramentas de criação de árvore genealógica permitem o enxerto como descrito anteriormente?

Eis aqui um problema real: as ferramentas disponíveis – sejam sítios, programas de computador ou apps – não costumam oferecer a opção de enxertar (merge) um ramo na árvore principal. O MyHeritage, por exemplo, oferece algo assim por meio de um programa de computador, mas não me pareceu muito prático. Felizmente, existe o programa gratuito Ancestris, que oferece essa função com grande rapidez e praticidade. Foi graças a ele que consegui unir o ramo em que se encontra a centena de parentes dos primos de minha prima à arvore em que ela e eu já nos encontrávamos.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista