Participo de várias comunidades dedicadas à genealogia no Facebook. Embora algumas sejam mais úteis e ativas que outras, considero a participação nessas comunidades uma excelente forma de aprendizagem para o genealogista amador, pois nelas costumam ser publicadas dúvidas e pedidos de ajuda que, ainda que não tenham a ver com nossas pesquisas pessoais, oferecem lições preciosas sobre como e onde fazer buscas com mais chances de sucesso.

Uma dúvida que vi recentemente em uma dessas comunidades dizia respeito à falta de assentos de batismo para pessoas que possuíam assentos de óbito devidamente registrados nos livros de uma freguesia. As razões para essa situação podem ser variadas, e duas explicações foram de imediato oferecidas como resposta ao questionamento:

  • A destruição dos livros paroquiais de batismo para o período relevante;
  • A falha do pároco, que não vivia na região, em fazer o registro dos batismos quando de lá retornava.

Uma terceira razão me ocorreu a partir da lembrança de um caso existente em minha árvore familiar – o registro de uma criança em freguesia diferente daquela onde vivia sua família ou parte dela.

O caso em questão diz respeito à prole do Tenente Caetano Pinto Rabello (1792-1876), natural da freguesia de Barcos, em Tabuaço, concelho de Viseu. Caetano casou-se com Maria Augusta Pinto por volta de 1839 e teve com ela ao menos oito filhos até agora identificados: Júlio, Camilla, Camillo (falecido ainda criança), Camillo (segundo de mesmo nome, prática comum quando um filho falecia ainda criança), Ismênia, Maria Amália, Custódio e Maria Natividade.

À exceção de Júlio, que foi batizado em 22 de junho de 1839 em São Miguel de Lobrigos, no Porto, todos os demais filhos foram batizados em Barcos. A descoberta do assento de batismo de Júlio ocorreu graças (a) à desconfiança com a ausência de seu assento na freguesia de Barcos, (b) à menção à freguesia de origem de sua mãe no registro de batismo de seus irmãos e (c) ao fato de seu pai ter sido militar com nome relacionado na página 40 da publicação Lista Geral dos Officiaes do Exército Libertador referida ao dia 25 de julho de 1833. A libertação, como se sabe, ocorreu após uma batalha na região do Porto.

Abaixo apresento a transcrição do assento do batismo de Camilla, irmã de Júlio, com meus destaques:

Aos seis dias do mês de março do ano de 1843, eu Antonio Rodrigues Pinheiro, abade colado nesta igreja de Nossa Senhora da Assunção da vila de Barcos, nela solenemente batizei a Camilla, que tinha nascido no dia 23 do mês passado do presente ano, filha legítima de Caetano Pinto Rebello, natural desta vila de Barcos, e de sua mulher D. Maria Augusta Pinto, natural da freguesia de São Miguel de Lobrigos, do bispado do Porto. Primeiro matrimônio entre ambos. Neta paterna de José Pinto Rebello do Souto e de Bárbara Ribeiro, ambos desta vila, materna de Luis do Nascimento e de sua mulher Antonia Rosa, naturais da sobredita freguesia de São Miguel de Lobrigos. Foram padrinhos Camillo de Macedo e sua mulher Francisca do Carmo de Macedo, naturais da Régua do lugar da freguesia de São Faustino do [], bispado do Porto, e constituíram por procuradores para tocarem a menina ao sair da pia e fazerem todo [] em direito lhe ter concedido Antonio Pinto Rebello e sua irmã Maria Pinto, tios da batizada pela parte paterna. Foram testemunhas José Antonio de Araújo e Júlio de Araújo, os quais assinam comigo para constar. Era ut supra. – o Reitor Antonio Rodrigues Pinheiro

As razões por que não se encontram livros de batismo podem ser variadas, porém apresentei aqui uma razão para a qual tive comprovação.


José Araújo é linguista e genealogista.