Há 17 mil anos, as planícies da Europa setentrional estavam completamente desertas; toda a vida, animal e humana, estava espremida na Ucrânia, no sul da França, na Itália e na Península Ibérica. Velda, a quarta das sete filhas [de Eva], viveu no norte da Espanha nas montanhas da Cantábria, alguns quilômetros além do que é hoje o porto de Santander. _ Sykes, Brian. As Sete filhas de Eva. Editora Record, 2003.

O mundo de Velda era frio, e seu grupo precisava migrar com as estações em busca de alimento. Sua dieta era composta da carne de bisões e outros animais caçados pelos homens, mas também de frutas, ovos e cogumelos coletados pelas mulheres e crianças. A partida dos homens para os longos períodos de caça deixava Velda e suas companheiras expostas ao perigo de ataques por leopardos e outros predadores.

Velda demonstrava dotes artísticos e vinha de uma família que ficaria conhecida pelas pinturas cerimoniais feitas nas paredes das cavernas, como as de Altamira. Essas pinturas, talvez acreditassem, dariam ao grupo poderes sobrenaturais sobre os seres representados, geralmente os animais que eles caçavam.

Réplica do teto da caverna de Altamira – Museo Arqueológico Nacional de España

Essa história, criada por Bryan Sykes, professor de genética na Universidade de Oxford, compõe, com outras seis, um relato do que teria sido a vida das matriarcas dos principais haplogrupos europeus, descobertas por meio da análise do DNA mitocondrial de contemporâneos nossos.

Descendo de Velda pela via de Josepha, minha avó paterna, segundo descobri após uma prima, filha de uma irmã de meu pai, teve seu DNA mitocondrial testado pela FamilyTreeDNA. Isso quer dizer que uma linha imaginária – mas bastante real – de material genético conecta minha prima e eu a uma mulher que viveu há mais de dez mil anos no norte da Espanha.

A mesma linha conecta essa mulher, Velda, a 5% dos europeus contemporâneos que vivem hoje na Finlândia e no norte da Noruega.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista