O canibalismo era uma prática funerária de rotina na Europa há cerca de 15 mil anos. Na época, as pessoas comiam os mortos não por necessidade, mas sim como parte da sua cultura. É o que sugere um estudo publicado na revista Quaternary Science Reviews, que diz que ossos roídos e crânios humanos que foram transformados em taças encontrados na Inglaterra não são incidentes isolados. _ CNN Brasil – 6/10/2023

A matéria publicada pela CNN traz um erro bastante comum para um público leigo, mas indesculpável para um veículo de comunicação: confundir antropofagia com canibalismo. A matéria deveria usar o primeiro termo, que diz respeito a rituais em que a carne humana é consumida, em geral comunitariamente, para fins ritualísticos, que é exatamente o que sugere o texto seguinte: “as pessoas comiam os mortos não por necessidade, mas sim como parte da sua cultura”.

A prática da antropofagia era muito comum entre os indígenas brasileiros nos tempos pré-coloniais, especialmente entre os tupis, para horror dos cronistas visitantes e jesuítas. Esses povos viviam em guerras constantes entre si, em geral movidos pela vingança. Os perdedores poderiam ser mortos em combate ou, quando apresentavam admirável bravura, capturados e bem tratados até serem mortos e devorados em um banquete ritual.

O etnocentrismo cultural dos tempos da colônia e até mais tarde sempre tratou os costumes indígenas como selvagens ou não cristãos, por isso a descoberta descrita na matéria é admirável, pois ela demonstra que esses mesmos costumes já existiam na Europa em tempos imemoriais.

Esse mesmo etnocentrismo operou um apagamento das identidades das matriarcas do povo brasileiro, que os pesquisadores – historiadores e genealogistas – do passado acreditaram terem sido mulheres brancas. Graças à descoberta de novas fontes documentais e à popularização dos testes genéticos, hoje conseguimos resgatar as identidades dessas mulheres e reconhecer a importância dos povos originários na formação de nosso povo.

Matriarcas Reveladas – Disponível para Kindle

José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista