Os resultados dos testes de genealogia genética deixam bem claro o quanto a herança do DNA é uma loteria. Não resta dúvida de que filhos e netos herdarão muito DNA de seus pais e avós biológicos, mas a situação começa a ficar mais imprevisível a partir dos primos de segundo grau. Não é por isso, no entanto, que primos mais distantes revelados pelos testes não devam ser considerados como possíveis fornecedores – voluntários ou não – de pistas para o desenvolvimento de nossas árvores familiares e a descoberta da filiação paterna de alguns de nossos antepassados. Tenho casos assim em minha árvore materna e só pude esclarecer alguns deles até o momento graças a meus primos WIL, REG e THAS, que tiveram o carinho de participar comigo dessas buscas pela paternidade dos n-avós, que por vezes parece infindável. Neste texto quero demonstrar o quanto foi variada a carga genética que eu e meus primos herdamos de nossos antepassados em comum e que compartilhamos com correspondências ou matches de DNA que são nossos primos distantes por descenderem desses mesmos antepassados. A proposta é demonstrar que mesmo matches com relativamente pouco DNA compartilhado têm valor na pesquisa.

O caso em questão está relacionado a um dos ramos de minha árvore materna e a um dos ramos paternos das árvores de WIL, REG e THAS. Eu, WIL e REG somos netos – eu materno e eles paternos – de Durvalina Rabelo Guimarães (1895-1969), que foi filha de Artur Rabelo Guimarães (1868-1917), cuja paternidade esclareci em outro texto. THAS é neta de uma irmã de Durvalina chamada Maria Rabelo Guimarães (1904-1979), portanto nós três somos bisnetos de Artur. Por meio do teste de DNA autossômico, encontrei três matches ou primos de quem nunca havíamos ouvido falar. Dois deles – ADE e SER – nascidos na mesma cidade onde viveram nossos antepassados – Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro. ADE é neto de um irmão de Durvalina e Maria Rabelo Guimarães que se chamava Antônio Rabelo Guimarães (1897-1965) – mesmo nome do pai de nosso bisavô Artur. SER, por sua vez, é bisneto desse Antônio, portanto trineto de Artur. O terceiro match é uma mulher chamada MAR cuja família vive em São Paulo e cuja relação conosco se dá pelo casal português Domingos Rebelo Guimarães (1812-1862) e Maria Gonçalves Moreira (1825-?), que foram os avós paternos de meu bisavô Artur. Eles foram, como se vê na árvore abaixo, trisavós de MAR; tetravós meus, de WIL, REG, THAS e ADE; e pentavós de SER.

Primos e matches de DNA

Pela árvore fica demonstrado que WIL e REG são meus primos de primeiro grau – temos a mesma avó: Durvalina – , que THAS e ADE são nossos primos de segundo grau – temos o mesmo bisavô: Artur – e que SER é nosso segundo primo de primeiro grau, pois o parentesco deixa de ser isonômico em um grau. MAR, enfim, é terceira prima de primeiro grau de WIL, REG, THAS e minha também. Agora vejamos na tabela abaixo quanto DNA nós todos compartilhamos. Considere que WIL deve ter uma quantidade não desprezível de DNA compartilhada com SER e ADE, mas não foi possível informá-la porque seu teste foi feito em laboratório diferente do deles.

EUTHASREGWIL
SER5614234?
ADE39132161?
MARXX4919
Matches (valores em centimorgans ou cM)

Um ponto a destacar é que, embora eu, THAS, REG, WIL e MAR descendamos do mesmo casal (Domingos e Maria), MAR compartilha DNA apenas com REG e WIL, o que demonstra que não compartilhar um match com parentes próximos não implica a ausência de parentesco próprio com esse match. É interessante que embora eu, THAS, REG, WIL e ADE sejamos igualmente bisnetos de Artur Rabelo Guimarães, eu compartilho muito menos DNA com ele do que meus primos de primeiro grau. Atente, enfim, para a variação do DNA compartilhado com os matches, que alcançou seu mínimo em 19cM no par WIL-MAR, o que talvez fosse considerado por alguns pesquisadores afoitos como uma correspondência muito distante e que não valesse a pena investigar pela possível dificuldade de localização de documentos. No entanto, foi exatamente esse match que me auxiliou no esclarecimento da filiação de meu bisavô Artur Rabelo Guimarães, que nos documentos disponíveis era identificado apenas como filho natural de Julinda Dias Seabra.

Sintetizando o que foi aprendido nesse caso:

  • Faça um teste de DNA se você tiver a possibilidade, pois assim você tanto terá condição de resolver questões similares em sua árvore quanto ajudará outras pessoas a resolver questões nas árvores delas;
  • Teste mais de um membro de sua família de ambos os costados – paterno e materno – sempre que possível;
  • Teste tios e primos, nessa ordem de preferência, se seus pais e avós não estiverem mais vivos ou não estiverem dispostos a fazer um teste de DNA;
  • Leve em consideração mesmo um match que compartilhe pouco DNA (medido em cM) com você ou com um parente próximo que tenha sido testado;
  • Busque toda fonte documental disponível – seja ela um registro vital (batismo, nascimento, casamento, óbito), inventário, carta, notícia de jornal ou fotografia – para tentar documentar o parentesco com o match.

José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista