Entre 1555 e 1565, franceses comandados por Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571) ocuparam a Ilha de Seregipe, localizada na entrada da Baía de Guanabara. Lá eles construíram uma fortificação – o Forte Coligny – para defesa contra os portugueses. Essa ocupação, que ficou conhecida como França Antártica, tinha objetivos colonizadores, mercantis e religiosos, pois com o calvinista Villegaignon vieram outros calvinistas e católicos que buscavam refúgio das guerras religiosas que assolavam a França. Por aliados, os franceses teriam os índios tamoios ou tupinambás.

Para expulsar os franceses e afastar a ameaça aos direitos territoriais estabelecidos no Tratado de Tordesilhas de 1494, a coroa portuguesa enviou uma esquadra sob o comando de Bartolomeu de Vasconcellos Cunha que apoiaria o Governador-geral Mem de Sá (1558-1572). A ela juntaram-se reforços vindos de Santos e São Vicente entre os quais estava meu tridecavô, o cristão-novo Cristóvão Dinis, como atesta o historiador Américo de Moura em sua obra Os povoadores do Campo de Piratininga (2ª ed., São Paulo: Instituto Histórico Geográfico de São Paulo, 1952, p. 349):

Cristóvão DINIZ. Nascido em Portugal. Antes de 1560 já morava em Santos, tendo ido ao Rio de Janeiro, na guerra contra os franceses (“Anais” da Bibl. Nac. XXV, 223). Casou com Maria CAMACHO, filha de Bartolomeu CAMACHO. Em 1567 ainda morava em Santos, onde tinha lavoura, sendo um dos partidistas do engenho de S. João, de José Adorno. Vindo para S. Paulo, aqui foi vereador em 1572, reunindo-se a câmara em sua casa, e nesse ano recebeu chãos para fornecer telhas ao conselho, mas em 1575 voltou para Santos sem haver cumprido o contrato. Lá obteve provisão de almoxarife da fazenda real, cargo que já exercia em 1576. Silva Leme somente descobriu duas filhas suas, uma das quais, Clara DINIZ, casada com Domingos DIAS, o moço, veio ou ficou morando em S. Paulo.

Com essa força reunida conseguiram os portugueses destruir o Forte Coligny, mas não lograram expulsar definitivamente os franceses, que se reorganizaram. Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral, fundou, em 1º de março de 1565, no sopé do morro Cara de Cão, a povoação de São Sebastião do Rio de Janeiro, que se constituiu inicialmente como uma base de operações para que os portugueses e os índios maracajás ou temiminós, seus aliados, obtivessem a vitória definitiva contra os franceses e os tamoios em 1567.

Ataque português ao forte de Coligny – André Thevet – Acervo da Biblioteca Nacional

Na gravura acima, está representado o ataque da esquadra portuguesa (Armes des Portugues) ao forte de Coligny (Fort des Françoys) na Ilha de Seregipe, hoje Ilha de Villegaignon. Ao fundo, vê-se a Ilha do Governador ou dos Maracajás (Isle des Margaiatz), onde viveram os temiminós antes de serem expulsos pelos tamoios. À esquerda, vê-se a povoação dos franceses no continente (Henryville), entre o atual Morro da Viúva e o Morro da Glória, de onde os franceses foram repelidos inicialmente.

No local onde ficava Henryville os tamoios fundaram a aldeia fortificada de Uruçumirim, cuja derrocada marcou a vitória dos portugueses e também a morte de Estácio de Sá. A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro seria refundada, em 20 de janeiro 1567, dia de São Sebastião, no Morro do Descanso, que seria mais conhecido como Morro do Castelo, assim chamado porque quem via o forte de São Sebastião no seu topo acreditava tratar-se de um castelo. Esse morro seria destruído na segunda metade do século XX por ordem do prefeito Carlos Sampaio.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista