A quantidade de informação registrada pelos párocos nos assentos variou pelos séculos, tendendo a aumentar desde o século XVI até o XIX. Assim é que, no século XVI, os assentos batismais poderiam nem informar os nomes dos avós do batizado, enquanto no século XIX informavam os nomes dos avós e até as ocupações dos pais da criança.

Informações sobre as ocupações se tornaram regra apenas no século XIX. Mas toda regra tem exceções, como se constata no assento abaixo, que registra o óbito de Bernarda Pinto (1692-1725), uma das filhas de meu oitavo avô Álvaro Pinto e sua mulher Bernarda Pinto.

Óbito de Bernarda Pinto – 4/07/1725 – Almacave, Lamego

Nos quatro dias do mês de julho de 1725 anos, faleceu com todos os sacramentos Bernarda Pinto, solteira, criada de João de Moura do Castelo. Disseram que era filha que ficou de Álvaro Pinto da vila de Barcos deste bispado. Foi ensudairada em túnica de São Francisco e enterrada na igreja de Almacave e foi acompanhada com a comunidade da mesma igreja. Seria de idade de trinta anos, pouco mais ou pouco menos. Do que fiz este assento dia, mês era ut supra.

Bernarda era natural da vila de Barcos (concelho de Tabuaço), mas morreu como criada em Almacave (concelho de Lamego), algo aparentemente incomum entre meus antepassados portugueses, grande parte dos quais nasceu e morreu na vila de Barcos, tendo as mulheres, via de regra, sido “do lar” ou até costureiras, e os homens, alfaiates, farmacêuticos e médicos, para citar apenas alguns exemplos.

Outra antepassada minha – de nona geração – que trabalhou como criada foi Isabel, por alguma razão conhecida como “louca”, que foi mãe de Manoel Rabello (1671-1719), outro oitavo avô. O assento de batismo de Manoel registra essas informações:

Batismo de Manoel – 1/01/1671 – Barcos, Tabuaço

Em o primeiro dia do mês de janeiro de mil e seiscentos e setenta e um anos, pus os santos óleos a Manoel, filho de Isabel, aloqua (a louca), e de António Rabello seu amo. Assistiram aos exorcismos por padrinhos João de Araújo e sua filha Maria Pereira. O qual fiz batizado em casa pelo padre Domingos Simões, ecônomo nesta igreja, de que que fiz este que assino. O padre António Alvares de Carvalho

O assento anterior não informa diretamente a profissão de Isabel, mas declara que o pai de seu filho era também seu amo – mesmo que patrão ou senhor. Não está claro se Isabel seria apenas uma empregada ou, de facto, escrava de António Rabelo, hipótese esta que não poderia ser descartada, pois havia escravos africanos em Portugal àquela época.

Para saber mais sobre a evolução e a transcrição dos assentos paroquiais de Portugal e do Brasil, inscreva-se no curso Leitura de Assentos Paroquiais.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista

1 comentário

Louca – Genealogia Prática · 24 de setembro de 2020 às 09:47

[…] A leitura atenciosa dos assentos paroquiais põe em evidência informações que nos ajudam a contar a história de nossos antepassados e até a descoberta de transformações em suas vidas. Um caso que se destaca em minha árvore familiar é o de Isabel, minha nona avó, sobre quem já havia tratado em outro texto. […]

Os comentários estão fechados.