Não me canso de repetir que toda família deveria se preocupar em guardar cartas, diários, fotografias e relatos orais para a posteridade. Mais do que servir apenas a fins práticos como a busca de cidadania estrangeira, essa atitude ajuda a preservar  a memória da família, que julgo ser um bem imaterial dos mais valiosos.  

Infelizmente, no processo de elaboração da árvore genealógica ou da história de nossa família, descobrimos que não costuma haver esse tipo de preocupação. Esse foi o caso do ramo indireto de minha árvore em que se encontra o personagem Maximiano de Macedo, cunhado de meu avô paterno, que chegou ao Brasil em 1902 já tendo duas filhas – Emília Rosa e Maria Assunção – com Maria Amaral Xavier.

O reconhecimento dessas filhas ocorreu apenas quando de seu casamento, em 2 de julho de 1921, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, onde se estabeleceria na década de 1920 como alfaiate. A certidão de casamento de Maximiano de Macedo e Maria Amaral, que transcrevo abaixo com meus destaques, declara o reconhecimento das filhas:

Termo de casamento. Aos dois dias do mês de julho de 1921, nesta cidade de Nova Iguaçu, primeiro distrito do município de Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro, na residência do nubente, às dez horas, presentes o Capitão Manoel Joaquim Leitão, juiz de paz em exercício, comigo escrivão de seu cargo, abaixo nomeado e assinado, as testemunhas Vasco de Macedo, natural de Portugal, com 51 anos de idade, lavrador, casado e residentes neste município, e Victoriano Monteiro, com 57 anos de idade, viúvo, lavrador e Português, morador nesta cidade, e os nubentes Maximiano de Macedo e Maria do Amaral Xavier de Macedo, pelo juiz lhes foi dito o artigo que trata dos impedimentos do casamento e depois de ouvir de ambos a afirmação de casarem-se de livre e espontânea vontade e como não houvesse impedimento algum, receberam-se em matrimônio segundo o regime de comunhão de bens os ditos nubentes. Ele, natural de Portugal, com 37 anos de idade, solteiro, alfaiate, residente nesta cidade, filho legítimo de José de Macedo e Emília Rosa de Macedo, já falecidos; Ela natural de Portugal, com 49 anos de idade, solteira, doméstica, residente nesta cidade, filha legítima de José Xavier e Henriqueta do Amaral Xavier. Alegaram os nubentes que existe (sic) do casal duas filhas menores de nome Emília Rosa de Macedo, com 15 anos de idade, e Maria Assunção de Macedo, com 14 anos de idade, que por este ato as consideram suas legítimas filhas para todos os efeitos da lei.

Emília e Maria Assunção casaram-se no Brasil: a primeira em 12 de maio de 1928 com José Augusto Macedo de Araújo, sobrinho de seu pai e meio-irmão de meu pai; a segunda em 6 de janeiro de 1923 com Benjamin Alves Teixeira. Ambas faleceriam sem deixar descendentes: Emília em 13 de março de 1929 e Maria Assunção em 18 de abril de 1978. Dessa forma, ficamos privados da preservação de documentos e registos que pudesse ocorrer por iniciativa delas ou de seus eventuais filhos e netos.

Os sobrinhos-netos de Maximiano ainda vivos, por sua vez, não parecem ter recordação a respeito da vida dele. Tudo o que se sabe até o momento é o que foi encontrado em periódicosestudos acadêmicos sobre o movimento sindical no Rio de Janeiro do início do século XX e mesmo uma correspondência expedida.

Jornal do Brasil – 2/05/1917

Não fossem essas parcas fontes, a história desse ramo familiar não poderia mais ser contada.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista

1 comentário

Genealogia Prática - Migalhas · 14 de janeiro de 2019 às 19:15

[…] relevante para ilustrar o que digo é a reconstrução da história de vida do alfaiate português Maximiano de Macedo, cunhado de meu avô paterno. Graças a algumas das ferramentas que citei – e na ausência de […]

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