Aos vinte e nove de abril de mil oitocentos e noventa e quatro, nesta paróquia de Nossa Senhora Imaculada Conceição Aparecida da cidade de Alegrete, batizei solenemente a Osvaldo Euclides, nascido no dia quinze de fevereiro do corrente ano, filho legítimo de Euclides Egídio de Souza Aranha, natural de São Paulo, e Luiza de Freitas Valle Aranha, natural da cidade de Alegrete; avós paternos Martim Egídio de Sousa Aranha e Talvina do Amaral Nogueira Aranha; maternos Manoel de Freitas Valle Aranha e Luiza Jacques de Freitas. Foram padrinhos o Barão e Baronesa de Ibirocaí, representada por Manoel de Freitas Valle, filho, e Rita de Macedo Freitas Valle.
Osvaldo Euclides foi o segundo dos 12 filhos do paulista Euclides Egídio e de sua mulher Luiza. Seu pai, neto da baronesa de Campinas, era proprietário da estância Alto Uruguai no município gaúcho de Itaqui e político local. A família de sua mãe também era envolvida na política em Alegrete, onde Osvaldo seria prefeito vinte anos depois. Na infância, ingressou em colégio interno em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, mas teve de interromper os estudos alguns anos depois pela necessidade de tratamento médico em Buenos Aires. Esse tratamento foi continuado no Rio de Janeiro, então capital federal, para onde Osvaldo se mudou para ingressar no Colégio Militar. Após o curso secundário, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, curso que apenas concluiu depois de um período na Europa para estudos e tratamentos de saúde.
Em sua vida adulta, Osvaldo participou de momentos importantes da História do Brasil, como a Revolução de 1930, movimento militar que levou Getúlio Vargas (1882-1954) ao poder como ditador. No governo de Vargas, atuou como ministro da Justiça, da Fazenda e embaixador em Washington, cargo que deixou em 1937 com a promulgação do Estado Novo, de orientação nazifascista, ao qual se opunha. Em março de 1938, já no Brasil, aceitou ocupar o cargo de Ministro de Relações Exteriores, pelo que passou a atuar na aproximação do Brasil com os Estados Unidos e no consequente rompimento com os países do Eixo – a Alemanha nazista, a Itália fascista, e o Japão.
Durante o período de 1937 a 1942, em que Vargas se alinhava com os países do Eixo, Osvaldo atuou em oposição à política de estado e permitiu a entrada no Brasil de judeus europeus em fuga das perseguições nazistas. Após o fim da Segunda Guerra, ele teve participação em um evento de relevância global quando, em 1947, como chefe da delegação brasileira na recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU), presidiu a II Assembleia Geral da ONU que votou o Plano da ONU para a partição da Palestina, que culminou na criação do Estado de Israel. Hoje se sabe que sua atuação foi crucial para o resultado dessa assembleia.
Osvaldo Euclides de Sousa Aranha descende, pela família de seu pai, do capitão-mor governador Fernão Dias Paes e sua mulher Maria Garcia Rodrigues Betim, filha de Garcia Rodrigues Velho e Maria Betim. Segundo Marcelo Bogaciovas, Maria Betim e sua filha tinham fama de cristãs-novas. Garcia Rodrigues Velho, por sua vez, era bisneto de Garcia Rodrigues e Izabel Velho, minha décima-terceira avó, que também tinha origem cristã-nova. É digno de nota que Osvaldo Aranha, um descendente de cristãos-novos, tenha atuado de forma tão central em um evento que, no século XX, deu fim à milenar diáspora judaica.
O já citado Fernão Dias Paes era também bisneto materno de João do Prado e de Filipa Vicente, casal fundador de um ramo na Genealogia Paulistana e que também são meus décimos-terceiros avós, pois deles descendo a partir de minha tetravó materna Maria Tereza da Paz (1791-1855). Sendo assim, Osvaldo Aranha é meu primo distante, facto que pude comprovar tanto por meios documentais quanto por meio de um match genético de 16,3 cM entre uma sua parente e minha prima materna Suely.
O editor Pedro Aranha Corrêa do Lago (1958-), neto de Osvaldo Aranha, lançou em 2017 uma fotobiografia em que conta a história do célebre avô. Assista a esta entrevista de Pedro sobre o lançamento da obra:
José Araújo é genealogista.