Balthazar de Godoy pode ter sido um nobre castelhano, talvez nascido em Albuquerque, Badajoz, que veio a São Paulo na segunda parte do século XVI em tempo do domínio de Castela no Brasil. Aqui se casou com Paula Moreira, filha do capitão-mor governador Jorge Moreira, natural do Rio Tinto, Porto, e de Izabel Velho. Segundo José Gonçalves Salvador, “filhos do casal davam-se à tarefa de passar gente para o Paraguai, fugitiva das perseguições religiosas”.

Descendo de Balthazar e Paula por via de minha tetravó Maria Tereza da Paz. Graças à genealogia genética, tenho encontrado outros descendentes desse casal, primos distantes, alguns dos quais têm suas genealogias bem desenvolvidas, o que nos permite confirmar como nos relacionamos em relação ao casal citado. Um desses primos distantes – que aqui vou identificar pelas iniciais LFSP – compartilha 16,2‎ cM de DNA com minha prima materna RCMB, segundo o MyHeritage. Isso poderia significar um antepassado em comum para além dos tetravós, como se vê no gráfico abaixo.

MyHeritage – Relação entre RCMB e LFSP

Uma vez que o MyHeritage informava que LFSP tinha uma árvore aberta e com mais de 2.000 pessoas, me senti animado a investigar de qual dos dez filhos de Balthazar e Paula ele descenderia. Descobri que ele descendia de Belchior de Godoy, casado com Catarina Mendonça de Siqueira, que também são antepassados diretos meus e de RCMB – nossos decavós.

Assim comecei a registrar o ramo familiar de LFSP em minha própria árvore, efetuando verificações documentais geração a geração. Tudo parecia correto segundo a Genealogia Paulistana de Silva Leme, até que cheguei aos descendentes do casal Vicente de Godoy Macedo (bisneto de Balthazar e Paula), e Maria Pedroso de Moraes. A obra informa que esse casal teria tido apenas duas filhas: Rosa de Godoy e Maria Machado de Siqueira, como se lê no extrato abaixo.

Genealogia Paulistana – Título Godoys

A árvore de LFSP, no entanto, apresentava um possível filho do casal como seu antepassado: Antônio de Godoy Macedo, que teria se casado com Maria da Conceição Teixeira. Diante desse impasse, entrei em contato com o novo primo, que foi muito solícito e informou que sua árvore havia sido elaborada por outra pessoa, um genealogista, com quem fiz contato. O pesquisador confirmou a existência do filho de Vicente de Godoy não mencionado na Genealogia Paulistana (leia sobre caso parecido aqui), mas disse que eu só poderia ter conhecimento dele por via de sua descendência.

Sem mais informação, iniciei a busca dos descendentes de Vicente de Godoy e Maria Pedroso. No FamilySearch tive a sorte de encontrar uma árvore que mencionava o casal e trazia algumas referências e foi por elas que encontrei um livro misto – contendo assentos de vários tipos e de diferentes localidades – volumoso, ainda não indexado e catalogado de forma absolutamente equivocada. A solução, portanto, seria olhar imagem por imagem desse livro. Foi assim que encontrei os registros batismais de Bozente (de Godoy Macedo), nascido em Gravataí em 9 de agosto de 1778, e Rosa (Maria da Conceição), nascida em Viamão. Rosa é ascendente direta de LFSP, e seu assento batismal é apresentado abaixo com minha transcrição.

Batismo de Rosa – Viamão, RS

Aos vinte e oito do mês de março de mil e setecentos e oitenta batizei e pus os santos óleos a Rosa, filha de Antônio de Godoy e de Maria da Conceição. Foram padrinhos […] José Alves e Salvador de Oliveira Preto, [neta] pela parte paterna de Antônio Teixeira e Maria do Rosário [e] maternos Vicente de Godoy e Maria Pedrosa de Moraes, que para constar mandei fazer este assento que assinei.

O assento inverte os nomes dos avós paternos e maternos, mas é evidente que Vicente de Godoy só poderia ser o avô paterno da batizada, pois era o pai de Antônio Godoy. Na margem do assento está averbado que Rosa casou-se em 29 de janeiro de 1793, quando teria treze anos. Apesar da tenra idade da noiva, o casamento pode ser comprovado pelo assento de batismo de Maria, filha de Rosa Maria da Conceição e seu marido João da Silva Mariano, que também apresento abaixo com sua transcrição.

Batismo de Maria – Rio Pardo, RS

Aos dezenove dias do mês de julho de mil setecentos e noventa e quatro anos, nesta matriz do Rio Pardo, batizei e pus os santo óleos a Maria, filha legítima de João da Silva Mariano, natural de Santa Catarina, e de sua mulher Rosa Maria, natural de Viamão. Avós paternos José da Silva e Francisca Mariana, naturais de Santa Catarina; avós maternos Antônio de Godoy, natural de São Paulo, e Maria da Conceição, natural de Viamão. Foram padrinhos Leonardo Gomes e sua mulher Maria Antônia. De que para constar fiz este assento que assinei.

Esclarecida a questão do filho não citado na Genealogia Paulistana, pude completar o ramo de ascendentes até meu novo primo e esclarecer de que forma estamos relacionados. Sendo assim, tenho mais uma evidência, via teste genético e análise documental, que comprova a identidade do ramo paterno de meu bisavô João Pereira Belém. Espero em breve construir outras evidências semelhantes por via do casal Balthazar e Paula, cuja descendência também se encontra em Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.

Para facilitar o encontro de novos primos, criei um grupo no Facebook que poderá ser acessado pelos descendentes de Balthazar de Godoy e Paula Moreira e pesquisadores interessados neles.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista

2 comentários

Índice – Genealogia Prática · 3 de setembro de 2022 às 10:13

[…] um ramo muito bem documentado que chega a pelo menos quatro sefarditas ou cristãos-novos: Baltazar de Godoy, Cristóvão Dinis, Duarte Nunes e Izabel […]

Retrato – Genealogia Prática · 31 de outubro de 2022 às 14:31

[…] avô materno também descende dos Moraes e é primo de oitavo grau do poeta pelo ramo dos Godoys, um parentesco distante, mas que causa grande orgulho. Em reflexão sobre essa descoberta, trago […]

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