A resolução de questões de parentesco por meio de testes genéticos nem sempre é algo fácil, pois esses testes não têm a precisão esperada pelo genealogista. Sem o auxílio da pesquisa documental, seus resultados podem ficar por muito tempo como meras indicações de parentesco. Foi isso o que ocorreu em minha experiência com um teste de DNA autossômico que fiz há alguns anos.
Esse teste apresentou duas correspondências (matches) bem próximas, mãe e filha, com as quais eu compartilhava 53cM e 51cM, respectivamente. Isso corresponderia, segundo o laboratório, a um antepassado em comum entre a terceira e a quinta geração. Visto que ambas eram também correspondências com uma prima materna com a qual eu compartilhava apenas um costado, a suposição era de que nosso antepassado em comum viesse desse ramo – o dos Pereira Belém-Soares da Silva de Bananal de Itaguaí, Rio de Janeiro.
Troquei várias mensagens com a pessoa da correspondência de 51cM, chamada Vivian, sem que chegássemos a nenhuma conclusão a respeito de nosso antepassado em comum. Até que, muito recentemente, elucidei o mistério das origens familiares de meu bisavô materno João Pereira Belém (1848-1921), cujo ramo paterno – pela via de sua avó Maria Tereza da Paz (1791-1855) – descende por um lado da elite agrária do sul fluminense e por outro chega até os primeiros colonos da vila de São Vicente, São Paulo, descritos na Genealogia Paulistana de Silva Leme.
Para nossa sorte, Vivian tinha sua árvore bem desenvolvida e não tardamos a descobrir que nosso antepassado comum estava justamente no ramo da elite agrária fluminense, mais especificamente no patriarca João Pinheiro de Souza (1722-1782), de quem o Dicionário Histórico do Vale do Paraíba Fluminense afirma.
PINHEIRO DE SOUZA: Família – Família de origem portuguesa, de abastados proprietários de fazendas de café, estabelecida no Rio de Janeiro, membros da chamada “aristocracia rural fluminense”. Teve início em João Pinheiro de Souza [c. 1722, Freguesia de Unhão, Braga, 1782, Tinguá, RJ], que deixou numerosa descendência de seu casamento, em 1743, com Paula Pereira Monteiro, batizada em 25.6.1725, Iguassu, RJ, filha de Manuel Vieira Ribeiro e de Luiza Monteiro. Entre os descendentes deste casal, registrem-se: o bisneto, Inácio José de Américo Pinheiro [1828, Valença, RJ – 19.10.1892, Rio, RJ], fazendeiro, que foi agraciado com o título [Dec. 17.6.1882] de barão de Potengi. […]
Essa descoberta não apenas elucida a questão de nosso parentesco em comum como também valida – pela prova genética – a questão da paternidade de meu bisavô João Pereira Belém, que analisei em outro texto.
Adendo: Pude constatar posteriormente que meu parentesco com Vivian e com sua mãe ocorre por dois ramos em função do casamento de seus (respectivamente) hexavós e pentavós Miguel Tavares Pereira (1815-1848) e Luisa Maria da Conceição, pois aquele era filho dos já citados João Pinheiro de Souza e Paula Pereira Monteiro, enquanto esta era filha de Francisco Gomes Pereira (1764-1822) e Inácia Angélica de Moraes (1775-1822), meus pentavós, pais da também citada Maria Tereza da Paz (1791-1855). Isso talvez explique a quantidade de cM compartilhada entre nós.
José Araújo é genealogista.
3 comentários
Incrédulos – Genealogia Prática · 15 de fevereiro de 2021 às 10:28
[…] documentados graças à pesquisa de um primo. Já encontrei primos dessa forma e, com ajuda deles, descobri o ramo da árvore que nos une e dessa forma validei uma análise complexa feita […]
Thais – Genealogia Prática · 10 de junho de 2021 às 07:42
[…] entusiasta dos testes genéticos, pois eles já me ajudaram a confirmar uma análise documental que poderia conter alguma falha de interpretação e a descobrir primos […]
Factos-2 – Genealogia Prática · 19 de setembro de 2022 às 11:46
[…] primeiro match – Vivian – foi assunto de um texto publicado aqui. Sua mãe havia sido testada também e os cM em comum em relação a mim eram 51cM e 53cM, […]
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